Drogas aromáticas
Disciplina de Farmacognosia I, UFPR
Denominam-se drogas aromáticas aquelas que possuem óleos essenciais em sua composição. Os óleos essenciais, também chamados de óleos voláteis, óleos etéreos ou essências, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas. Sua principal característica é a volatibilidade, o que os diferencia dos óleos fixos.
Quimicamente, os óleos essenciais são constituídos de derivados fenilpropanoides ou, preponderantemente, de terpenoides. Na mistura de compostos são encontrados diferentes concentrações de hidrocarbonetos terpênicos, alcoóis simples e terpênicos, aldeídos, cetonas, fenois, ésteres, éteres, óxidos, peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas até compostos com enxofre. Exemplos de derivados terpênicos são mentol (1), funchona (2), citronelol (3) e borneol (4) e dos derivados do fenilpropano como o anetol (5), o eugenol (6) e o aldeído cinâmico (7).
Nas drogas aromáticas, os óleos essenciais são encontrados em diferentes órgãos vegetais, em espécies pertencentes a gêneros e famílias diversas. São armazenados em estruturas especializadas denominadas aparelhos secretores (vide abaixo): tricomas ou pêlos glandulares; células modificadas do parênquima, em canais secretores e em bolsas secretoras lisígenas ou esquizolisígenas.
Os métodos de extração utilizados para óleos essenciais variam conforme a localização do mesmo na planta e com o objetivo para o qual será destinado o óleo. Podem ser utilizados: arraste por vapor d’água, extração com solventes orgânicos, enfloração (enfleurage), prensagem (expressão) ou utilização de CO2 supercrítico. Em função do método de extração utilizado haverá variação na composição do óleo obtido, em função da grande labilidade dos seus constituintes.
As drogas aromáticas e os óleos essenciais têm diversas aplicações em perfumaria, na indústria de alimentos e de cosméticos, na aromaterapia e na medicina (usados como anti-sépticos, carminativos, estomáquicos, expectorantes etc).
Análise de Drogas Aromáticas
Na análise de drogas aromáticas são feitos dois tipos de análise:
- Identificação da droga (caracterização microscópica),
- Pesquisa de princípios ativos e doseamento do óleo essencial.
Em laboratórios de Farmacognosia, tanto a identificação da droga quanto a pesquisa de princípios ativos podem ser facilmente realizadas por meio de técnicas de microscopia óptica. Para tanto, são preparadas duas lâminas com cortes histológicos:
1. uma para identificação, na qual é realizada diafanização e, se necessário, coloração com floroglucina clorídrica;
2. outra, não diafanizada (para evitar a evaporação do óleo essencial), na qual será utilizado Sudam III como corante específico para pesquisa do óleo essencial.
Caracterização microscópica de drogas aromáticas
- Menta: folhas de Mentha sp., Lamiaceae
- Eucalipto: folhas de Eucalyptus globulus Labill., Myrtaceae
- Cravo-da-índia: botões florais de Syzygium aromaticum (L.) Merr. et Perry, Myrtaceae
- Canelas: cascas de caules de Cinnamomum cassia Ness ex Blume (C. aromaticum Ness) e C. zeylanicum Blume, Lauraceae
- Erva-doce: frutos de Pimpinella anisum L., Apiaceae
- Funcho: frutos de Foeniculum vulgare Mill., Apiaceae
- Diferenciação da erva-doce e do funcho com Cicuta: frutos de Conium maculatum L., Apiaceae
- Camomila: capítulos florais de Chamomilla recutita (L.) Rauschert. (=Matricaria chamomilla L.), Asteraceae
Flores tubulares (à esquerda) e ligulada (à direita) de camomila |
- Alecrim: folhas de Rosmarinus officinalis L., Lamiaceae
- Erva-cidreira: folhas de Melissa officinalis L., Lamiaceae
- Lípia: folhas de Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson, Verbenaceae
- Capim-limão: folhas de Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf, Poaceae
Doseamento de óleos essenciais por hidrodestilação
1. Pesquisar a densidade do óleo essencial da droga e escolher qual modelo de aparelho de Clevenger a ser usado;
2. Pesquisar na monografia da droga qual a % mínima de essência exigida;
3. Fazer o cálculo da tomada da amostra mínima (T.A.). A tomada de amostra que deve ser tal que seja possível ler no aparelho com facilidade a quantidade de óleo obtida (aproximadamente de 0,3 a 0,5 ml);
Exemplo: para se obter 0,2 ml de essência de determinada droga da qual a Farmacopeia exige um mínimo de 1% (1% = 100g de droga devem fornecer
no mínimo 1 ml de essência):
1 ml - 100 g droga
0,2 ml - T.A.
T.A. = 20 g
Preparar a tomada de amostra:
- fragmentar ou triturar grosseiramente a droga;
- pesar exatamente a tomada de amostra;
- colocar a droga em balão de junta esmerilhada 24/40;
- adicionar água destilada suficiente para submergir a droga
Montar o aparelho:
- acoplar o balão ao aparelho de Clevenger e à fonte de calor;
- encher a tubulação graduada do aparelho com água destilada até transbordar;
- colocar o "dedo-frio" (condensador) e ligar a água de refrigeração;
- ligar a fonte de calor, aquecer o balão até que a ebulição tenha início, deixar em ebulição por três horas e desligar o aparelho.
- aguardar o resfriamento e proceder a leitura do volume de essência no tubo
graduado.
obs.: se o valor encontrado for muito abaixo do esperado, ligar o aparelho novamente por uma hora e fazer nova leitura. Se a segunda leitura for igual à primeira, parar o processo. Se for diferente, superior à 5%, repetir o procedimento até verificar leitura constante.
Fazer o cálculo do doseamento:
tomada de amostra - x ml de essência
100 g de droga - y
y = .... % (v/p)
Apostilas de Aula Prática de Farmacognosia UEM e UEL
Objetivo: Verificar a presença ou ausência de óleos essenciais na matéria-prima vegetal.
A) Doseamento do óleo essencial
- Montar o aparelho de Clevenger, utilizando o balão de 1000 mL.
- Colocar em torno de 30 g da droga em balão de fundo redondo. Juntar cerca de 250 mL de água destilada/deionizada.
- Adaptar o balão ao aparelho de Clevenger. Colocar agua destilada no coletor graduado do aparelho até transbordar pelo tudo de retorno.
- Ligar e aquecer ao máximo ate o início da fervura. Depois baixar em temperatura suficiente para destilar.
- Destilar até que o volume de óleo essencial separado se mantenha constante, durante meia hora. Tempo de destilação de 4-5 horas.
- Deixar esfriar e fazer a leitura de óleo essencial no coletor graduado do aparelho.
A1) Cálculo
B) Verificação de adulterações de óleos essenciais – Teste no papel de filtro
- Depositar algumas gotas de óleo essencial em uma folha de papel filtro. Secar. Observar.
- Se estiver diluído com etanol, não haverá formação de manchas translúcidas.
- Se estiver diluído com óleo fixo, vai formar uma mancha bem translúcida.
- Se estiver diluído com outro óleo essencial, não vai formar mancha translúcida, porém cheiro diferente do óleo puro.
P = Óleo essencial padrão
AE=Amostra de óleo essencial
AF = Amostra do éleo fixo
Apostila de Aula Prática de Farmacognosia UFBA
Os óleos voláteis são os principais odoríferos encontrados em várias partes de plantas. Como evaporam quando expostos ao ar em temperaturas comuns, são chamados óleos voláteis, etéreos ou essenciais. Este último termo é utilizado porque os óleos voláteis representam "essências" ou componentes odoríferos das plantas.
Os componentes químicos dos óleos voláteis podem ser divididos em duas classes, com base na sua biossínteses que lhe deu origem: (1) derivados dos terpenoides, formados pela via do ácido mevalônico-acetato e (2) compostos aromáticos formados pela via do ácido chiquímico-fenil propanoides.
Caracteristicamente possuem odores próprios, alto índice de refração e a maioria é opticamente ativa. Via de regra, os óleos voláteis são imiscíveis em água, mas solúveis em éter, álcool e na maioria dos solventes orgânicos.
Praticamente todos os óleos voláteis são constituídos por misturas químicas muito complexas; sua composição química varia muito. Neles podem ser encontrados quase todos os tipos de compostos orgânicos (hidrocarbonetos, álcoois, cetonas, aldeídos, ésteres, óxidos, éteres e outros).
Muitas plantas são usadas com fins medicinais, mas em muitos casos o próprio óleo volátil separado da planta é usado como medicamento. De modo análogo, muitas plantas são pulverizadas e empregadas como especiarias e condimentos (anis, cravo-da-índia, noz-moscada). Além dos usos farmacêuticos os óleos voláteis são muito empregados como aromatizantes de alimentos e doces, bem como no comércio de especiarias, perfumes e cosméticos.
Prática
Objetivo: Identificar genericamente amostras de óleos essenciais, fazendo a identificação de adulterações que porventura as mesmas venham a apresentar.
Material de uso comum
- Banho-maria;
- Estufa a 100 °C;
- Solução de Sudam III;
- Éter dietílico;
- 01 béquer de 10mL com água destilada;
- 01 frasco com água + glicerina 1:1;
- 01 frasco com óleo essencial puro;
- 02 tubos de ensaio numerados 01 e 02, contendo, respectivamente, misturas de óleo essencial com óleo vegetal, óleo essencial com etanol, para cada óleo essencial;
- Pipetas de Pasteur para os tubos número 01 e 02;
- Papel toalha.
Material por grupo
- 01 microscópio óptico;
- 04 lâminas para microscopia;
- 04 lamínulas;
- 01 suporte de madeira para tubos de ensaio;
- 02 garras de madeira para segurar tubos de ensaio;
- 01 pedaço de papel de filtro comum;
- 04 tubos de ensaio de 2,0mL
- 02 pipetas de Pasteur.
Identificação genérica
Observação de gotículas de óleo em cortes histológicos
a. Efetuar, de acordo com os procedimentos normais, vários cortes histológicos da droga a ser observada. Colocar em lâmina de microscópio, colorir com Sudam III, cobrir com lamínula e levar ao microscópio óptico.
b. Observar a coloração vermelho-alaranjada que adquirem as gotículas de óleo essencial presentes em glândulas ou células secretoras. É um método não específico para essências, pois óleos fixos e resinas também são corados pelo Sudam III.
Caracteres organolépticas
a. Separar pequena amostra da droga a ser analisada, triturar com gilete e esfregar entre os dedos. Observar o odor característico.
b. No caso de amostras de óleo essencial puro, abrir o recipiente e deixar que seu odor disperse pelo ar. Observar sua cor e aspecto oleoso em recipiente transparente (tubo de ensaio, por exemplo).
Microdestilação
a. Adicionar em um tubo de ensaio cerca de 0,5g da droga devidamente triturada ou pulverizada, umedecendo-a em seguida com água destilada. Colocar o tubo em banho-maria com auxílio de garras de madeira e a seguir, coloque na boca deste, uma lâmina de microscopia.
b. Observar que após alguns minutos a lâmina irá conter, em sua parte inferior, vapores condensados provenientes do interior do tubo. Realizar duas coletas diferentes.
c. Verificar o odor do condensado.
d. Em seguida, cobrir a primeira lâmina com lamínula e colocá-la em microscópio óptico, a fim de se poder visualizar as gotículas de óleo essencial dispersas em água.
e. Adicionar uma gota de Sudam III no condensado da segunda lâmina, cobrir com lamínula e colocar o conjunto no microscópio. As gotículas de óleo essencial irão corar-se de vermelho-alaranjado.
Verificação de algumas adulterações (qualitativo)
Presença de óleo fixo
a. Adicionar, com auxílio de pipeta de Pasteur, 4 gotas de óleo essencial e 2 gotas de éter dietílico em um tubo de ensaio, agitando-o em seguida para misturar os componentes. Colocar uma gota da mistura em 3 regiões diferentes de um papel de filtro.
b. Repetir o mesmo procedimento com o óleo essencial proveniente do tubo de ensaio número 01.
c. Identificar as manchas no papel e deixá-lo por cerca de 15-20 minutos em estufa a 100°C. A presença de mancha gordurosa translúcida após a evaporação do óleo essencial e do éter, indica a presença de óleo fixo.
Presença de álcool
a. Em uma proveta graduada de 10,0mL, com auxílio de pipeta volumétrica, adicionar 5,0mL de óleo essencial a igual volume de uma solução de água glicerinada (água + glicerina 1:1). Observar cuidadosamente o menisco no momento das duas adições, pois os volumes têm que ser EXATOS e IDÊNTICOS. Se necessário, efetuar os devidos acertos com pipeta de Pasteur.
b. Misturar cuidadosamente os componentes da proveta e deixar em repouso por cerca de 10-15 minutos.
c. Repetir o mesmo procedimento com o óleo essencial proveniente do tubo de ensaio número 02. A contração do volume da essência, indica a presença de álcool, pois ele passa para a solução de água glicerinada.
Avaliação
- Os óleos voláteis ocorrem em quais estruturas nas folhas?
- Quimicamente a que classe de substâncias os óleos essenciais podem pertencer?
- Além de hidrodestilação, cite mais duas formas de extração de óleos voláteis.
- Quais os elementos básicos na formulação de um perfume?
- Que propriedade ou propriedades uma substância deve ter para ser volátil? Comente.
Referências bibliográficas
- Robbers, James E. Speedie, Marylin K. Tyler, Varro E.. Farmacognosia e Biotecnologia. Editora Premier. 1997.